quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Homem e a Mulher



Victor Hugo
 
O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.
 
Deus fez para o homem um trono.
Para a mulher, um altar.
O trono exalta.
  O altar santifica.
 
O homem é o cérebro; a mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz; o coração produz Amor.
A luz fecunda.
O Amor ressuscita.
 
O homem é forte pela razão.
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence.
As lágrimas comovem.
 
O homem é capaz de todos os heroísmos.
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece.
O martírio sublima.
 
O homem tem a supremacia.
A mulher, a preferência.
A supremacia significa a força.
A preferência representa o direito.
 
O homem é um gênio; a mulher, um anjo.
O gênio é imensurável; o anjo, indefinível.
Contempla-se o infinito.
Admira-se o inefável.
 
A aspiração do homem é a suprema glória.
A aspiração da mulher é a virtude extrema.
A glória faz tudo grande.
A virtude faz tudo divino.
 
O homem é um código.
A mulher, um evangelho.
O código corrige.
O evangelho aperfeiçoa.
 
O homem pensa.
A mulher sonha.
Pensar é ter no crânio uma larva.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
 
O homem é um oceano.
  A mulher um lago.
O oceano tem a pérola que adorna.
O lago, a poesia que deslumbra.
 
O homem é a águia que voa.
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.
 
O homem é um templo.
A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos.
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
 
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
  E a mulher onde começa o céu.

MUDANÇAS

 


Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.


Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!

Quem sou eu?

Aviso: este texto não é aconselhável a pessoas que não estejam interessadas em saber quem são.


Quem sou eu?
Quem sou eu? Uma pergunta difícil que merece, no mínimo, uma resposta complicada. Quem sou eu? Eu sou único. Todos nós o somos, pelo menos nas nossas opiniões. Todos nós somos diferentes, no entanto, todos somos iguais. Ser único esta restrito a um pequeno grupo de pessoas. Essas pessoas são únicas por aquilo que conseguem realizar na vida.
A vida. A vida não devia ser medida em dias, semanas, meses, nem sequer em anos mas sim pelos feitos que nós realizamos no tempo que temos disponível para habitar este mundo. Ninguém se vai lembrar mais de nós apenas porque vivemos até aos 80 anos mas sim por aquilo que fizemos enquanto cá tivemos. Isso sim é o mais próximo da verdadeira imortalidade que alguma vez vamos chegar.
A nossa singularidade é comparável as ondas do mar. Cada onda vista como um individual é diferente das outras. Desde da sua formação, até ao percurso realizado, onde chega a zona de rebentamento, cada onda é diferente da outra. Mas quando visto no conjunto é tudo mar. Diferentes entre elas mas iguais nas suas curtas vidas e nos seus percursos. E assim é a vida das pessoas. Nascem, vivem, e morrem. Para cair no esquecimento das gerações seguintes. Únicos são aqueles que marcam as suas diferenças e não deixam que as suas memórias sejam esquecidas.
Fernando Pessoa com a sua mistura de simplicidade e complexidade acabou por marcar a sua diferença. Na realidade, quando era estudante, não gostava muito da matéria mas confesso que admiro o homem porque ele era único. E era por esse motivo que tínhamos que estudar ao pormenor a sua vida e a sua obra em vez de estudar a vida e obra do Zé Miguel, o mecânico da zona. Fernando Pessoa fico imortal com a sua singularidade e isso é de louvar.
Isso leva-me de volta a minha questão inicial. Quem sou eu? Eu sou uma pessoa que tenta deixar a sua marca mas que de certa forma ainda não foi capaz. Quem sou eu? Eu sou o eterno apaixonado, um jovem sonhador, um lutador feroz no que toca aos objectivos da vida. Sou uma pessoa complexa, cheia de confiança mas ao mesmo muito inseguro. Tenho sonhos a realizar e tento aproveitar cada dia para o fazer. Mas confesso que na realidade nem sempre o consigo.
E tu? Quem és?

Coisas do coração

Quando os sentimentos começam a confundir a mente, nos impelindo a desejos impulsivos, aí não tem jeito, é quase impossível nos libertarmos da condição de reféns.Quando o coração desordena e dá novo rumo aos sentimentos, é porque o alguém, por quem os mesmos faziam eriçar a  pele, está perdendo ou já perdeu o encanto. E lutarmos pela contensão dos novos estímulos é quase sempre em vão.
Dizer que: “o coração está dividido”, é apenas uma maneira de iludirmos a razão; na verdade ele já formou um novo vínculo que vibra e nos deixa trêmulos, feito uma presa diante do seu predador, quando nos aproximamos do fruto que ele, feito leviano, necessita morder. 
Quando dizemos: “não sei o que aconteceu”, é porque já é hora de darmos ouvidos aos segredos do coração. Quando dizemos: “mas tudo mudou tão de repente”, é porque ainda não percebemos o quanto já foram desidratados os sentimentos anteriores e que aquela fonte secou, agora, precisamos de uma nova fonte para matar a sede do coração. Pois ele é sempre assim: revira-nos por dentro e, sem aviso, se antecipa à razão. E quando dizemos: “que meus instintos não falhem”, acabamos de nos “condenar” à conexão a ele e de assumirmos o desejo de ter esta chama afagada pelo abraço da nova paixão, explorando recantos que matem a sede de dois corações.